As enchentes – soluções –
cuidados – convivência
Enchentes
podem ser catástrofes com efeitos graves durante anos, além do risco de
repetição, portanto exigindo ações preventivas.
Sempre que alguma emergência
acontece é normal a ação de socorro e solidariedade. Essas atividades são
extremamente importantes, pois as pessoas atingidas podem estar sem alimentos,
água potável, agasalhos, proteção contra intempéries, segurança etc.; ou seja,
a atuação precisa ser imediata, sem maiores burocracias e prazos de discussão.
Tudo pode se agravar se
motoristas e passageiros ficarem isolados, o que não é raro em nosso país com
estradas de centenas de quilômetros.
Para atuação imediata cidades, os
estados e a União têm repartições públicas em condições de agir, mas isso
também significa conhecer e agir num país continental.
Diante da frequência e hipótese
de repetições, é extremamente importante que, preventivamente, as famílias,
crianças, adultos, todos enfim tenham treinamento e informações necessárias e
suficientes para resistir durante alguns dias até que o socorro oficial, de
ONGs e voluntários aconteçam efetivamente.
Cidades onde as enchentes são
comuns, como é o caso de muitas do Vale do Itajaí em Santa Catarina, possuem
unidades organizadas e materiais para assistência preventiva e apoio durante
esses pesadelos.
No Brasil, contudo, a migração
livre de pessoas é um risco permanente, principalmente porque essas famílias
desconhecem o local onde se instalam.
Precisamos, portanto, desenvolver
programas educativos e elucidativos onde for necessário, inclusive em
comunidades aparentemente a salvo das enchentes, mas que poderão ficar semanas
sem regularidade nos serviços essenciais, alimentos, remédios etc.
Muitos portais trazem orientações
valiosas, com destaque até natural criados em cidades onde as enchentes são
regulares [ (1), (2), (3), etc.].
Felizmente, ao contrário de
muitos países mais expostos, não temos uma série de catástrofes que, por sua
vez acabam educando e orientando engenheiros, arquitetos, urbanistas, médicos,
hospitais, sociólogos, eleitores e eleitos. O Brasil é um país despreparado
para muitos fenômenos que poderão até vir do céu na forma de algum meteorito
maior.
A verticalização das cidades e
adensamentos colossais são assustadores, quando imaginamos as piores hipóteses.
Raciocinando apenas com as
enchentes devemos colocar questões que são rotineiras, mas perdem impacto pela
mudança de foco da mídia.
Uma das principais preocupações deve ser com as
doenças típicas durante e após as águas baixarem. Leptospirose, diarreias,
problemas respiratórios e infecções em geral normalmente matam muito mais gente
do que os afogamentos. Temos estatísticas? Orientações efetivas? Recursos de
socorro?
Tudo se agrava se as temperaturas
oscilarem muito e se a higiene não for possível, assim como alguns cuidados
simples e fáceis de serem tomados.
Que portais e revistas trarão
essas orientações?
As grandes cidades são
midiáticas, nelas é mais fácil ver e reagir; e nos lugares ermos de nosso
Brasil? Nem médicos têm, quanto mais orientações seguras.
Nossos voluntários de cidades com
potencial de catástrofes precisam se organizar para cobranças enérgicas, talvez
formando o que o Governo Federal propõe (4) já que os
instrumentos políticos de ação estão falhando vergonhosamente. Aliás, Hannah
Arendt destaca isso em seu livro (5) onde deixa muito
claro seu desalento com os padrões de representatividade. Atualmente, com a
possibilidade de votações via internet, redes sociais, sistemas de pesquisa
etc. poderemos reduzir ao máximo os poderes legislativos, tornando-os nobres
órgãos de consulta e participação presencial das vontades e necessidades
populares.
Infelizmente no Brasil, talvez
pela sua grandeza física e apetites desmesurados de grandes grupos econômicos,
nossa “democracia” tenha perdido o rumo.
O socorro a vítimas de
catástrofes precisa ser prioridade de Governo assim como a inibição de
migrações, ocupações e atividades lesivas que exponham essas populações a
riscos excessivos.
Nisso tudo os profissionais
melhor preparados devem agir energicamente através de seus órgãos de
representação e até no dia a dia profissional.
Muito do que foi construído com
as melhores intenções possíveis mostra agora, nitidamente, seus efeitos
perversos. Em relação às enchentes, por exemplo, temos em todos os sentidos
imensas rodovias e ferrovias formando autênticos diques que represam as águas,
oferecendo poucos espaços para o escoamento de cheias. Esse é apenas um exemplo
do que não vemos nem ouvimos debater.
Será que nossos grandes
engenheiros não enxergam?
Unindo o desafio da preservação e
recuperação ecológica e ambiental o Brasil precisa de novos paradigmas de
projeto e construção, além até da boa operação de grandes barragens e sistema
de alerta (só para lembrar um caso recente). Mais ainda, é fundamental um plano
de retirada de população de áreas onde não possam existir diante da severidade
do clima. O que se gasta para manter dezenas de milhões de brasileiros em
lugares de vida impossível viabilizaria a descentralização radical de nossa
população, afinal o Brasil tem oito e meio milhões de quilômetros quadrados,
não precisando concentrar seus duzentos milhões de habitantes em espaços
saturados e estratégicos aos grandes rios, exemplificando, isso sem falar da
preservação do que sobrou da Mata Atlântica e outras essenciais à fauna e flora
e a todos os brasileiros (pré e pós colombianos).
O desafio que colocamos é que não
simplesmente resolvamos os problemas das enchentes que aconteceram, mas que
estudemos ações para evitar as tragédias humanas rotineiras durante e após as
enchentes.
Teremos capacidade para enfrentar
esse desafio?
Cascaes
13.5.2014
5. Arendt, Hannah.
Sobre a Revolução. [trad.] Denise Bottmann. s.l. : Companhia das
Letras.
2014 close approach[edit]