O império da visão oportunista criada pela globalização e supervalorização do consumismo desvia a atenção da população para o agravamento de questões essenciais à sua sobrevivência. Em quase todos os países a desregulamentação, desestatização, o enfraquecimento dos Estados contribuem para o desmonte de estruturas de defesa civil e enfraquecimento da capacidade de resistência a acidentes em potencial.
Os norte americanos descobriram a fragilidade de seus dispositivos policiais em 11 de setembro, quando, de forma trágica, foram vítimas de um ataque suicida da pior espécie, ilustrando a letalidade de um mundo em que a facilidade de trânsito aumenta, tanto para as pessoas, quanto para vírus, drogas, bombas e coisas boas, também. É justamente o lado positivo das facilidades modernas que aumenta os riscos das epidemias, do crescimento de organizações terroristas etc.
A proteção da sociedade seria mais eficaz se todos se convencessem da necessidade de maior vigilância, independentemente de suas obrigações formais. Felizmente, no Brasil, já podemos contar com o Ministério Público, entidade que tem se mostrado extremamente eficaz na defesa do cidadão. O Poder Judiciário carece, contudo, de recursos técnicos próprios para serviços que dificilmente assumiria, até pela dimensão de atividades que demandam pessoas especializadas e de alto custo. A ação voluntária é uma forma de se complementar falhas de nossas estruturas, precisando, contudo, de vontade real, coragem, desprendimento etc.
Precisamos, para viabilização de ações de defesa social motivar nossos cientistas, estudiosos, técnicos, profissionais de todas as áreas a contribuírem com iniciativas de interesse social.
Graças à liberdade de imprensa e iniciativas de equipes de jornalismo de algumas emissoras de televisão e jornais sabemos que faltam lugares nas UTIs em algum estado brasileiro, que as penitenciárias estão superlotadas e em decomposição, que a SARS existe etc. Falta muito, entretanto, apesar desse empenho da Mídia, para termos uma visão completa do que pode nos atingir. Vivemos em sociedades com milhões de pessoas, em cidades sempre carentes de tudo, em um país de dimensões continentais. No Brasil, pelas suas características e história, não vemos ONGs de defesa da sociedade contra omissões que poderão viabilizar grandes acidentes.
A progressão da pneumonia asiática assusta. Se não temos leitos para atender doenças de rotina, o que será de nós se essa epidemia nos atingir? Em paralelo notamos a progressão do crime organizado, o crescimento das favelas, o desemprego e outras pragas e sintomas de degradação da vida do povo brasileiro.
Conhecemos a ação de diversas entidades de classe. Lamentavelmente notamos que muitas delas se mobilizam mais para a defesa de interesses corporativos ou projetos pessoais de poder do que na luta pela sobrevivência da nação brasileira. No caso da gripe asiática não conhecemos a opinião das associações médicas, dos nossos especialistas. Assim caminhamos candidamente para cenários de alto risco pela absoluta falta de interesse social de gente que, a essa altura, deveria estar reunida, fazendo estudos e manifestos apontando o que deveria ser corrigido para se evitar surpresas mortais.
A omissão assusta quando vivemos num cenário em que só o valor das tarifas incomoda. Será que as empresas de transporte aéreo estão fazendo a manutenção de seus aviões com os padrões necessários? As hidroelétricas estão sob controle? É grande o risco de outro acidente ambiental? A Petrobrás e as Cataguazes da vida tomaram juízo?
Precisamos de maior presença dos nossos técnicos na discussão dos problemas nacionais. Já não podemos confiar em governos que se entregaram ao FMI e a questões menos importantes que a sobrevivência do próprio povo.
Cascaes
11.5.3
Nenhum comentário:
Postar um comentário