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domingo, 6 de julho de 2008

Problemas nacionais

O império da visão oportunista criada pela globalização e supervalorização do consumismo desvia a atenção da população para o agravamento de questões essenciais à sua sobrevivência. Em quase todos os países a desregulamentação, desestatização, o enfraquecimento dos Estados contribuem para o desmonte de estruturas de defesa civil e enfraquecimento da capacidade de resistência a acidentes em potencial.

Os norte americanos descobriram a fragilidade de seus dispositivos policiais em 11 de setembro, quando, de forma trágica, foram vítimas de um ataque suicida da pior espécie, ilustrando a letalidade de um mundo em que a facilidade de trânsito aumenta, tanto para as pessoas, quanto para vírus, drogas, bombas e coisas boas, também. É justamente o lado positivo das facilidades modernas que aumenta os riscos das epidemias, do crescimento de organizações terroristas etc.

A proteção da sociedade seria mais eficaz se todos se convencessem da necessidade de maior vigilância, independentemente de suas obrigações formais. Felizmente, no Brasil, já podemos contar com o Ministério Público, entidade que tem se mostrado extremamente eficaz na defesa do cidadão. O Poder Judiciário carece, contudo, de recursos técnicos próprios para serviços que dificilmente assumiria, até pela dimensão de atividades que demandam pessoas especializadas e de alto custo. A ação voluntária é uma forma de se complementar falhas de nossas estruturas, precisando, contudo, de vontade real, coragem, desprendimento etc.

Precisamos, para viabilização de ações de defesa social motivar nossos cientistas, estudiosos, técnicos, profissionais de todas as áreas a contribuírem com iniciativas de interesse social.

Graças à liberdade de imprensa e iniciativas de equipes de jornalismo de algumas emissoras de televisão e jornais sabemos que faltam lugares nas UTIs em algum estado brasileiro, que as penitenciárias estão superlotadas e em decomposição, que a SARS existe etc. Falta muito, entretanto, apesar desse empenho da Mídia, para termos uma visão completa do que pode nos atingir. Vivemos em sociedades com milhões de pessoas, em cidades sempre carentes de tudo, em um país de dimensões continentais. No Brasil, pelas suas características e história, não vemos ONGs de defesa da sociedade contra omissões que poderão viabilizar grandes acidentes.

A progressão da pneumonia asiática assusta. Se não temos leitos para atender doenças de rotina, o que será de nós se essa epidemia nos atingir? Em paralelo notamos a progressão do crime organizado, o crescimento das favelas, o desemprego e outras pragas e sintomas de degradação da vida do povo brasileiro.

Conhecemos a ação de diversas entidades de classe. Lamentavelmente notamos que muitas delas se mobilizam mais para a defesa de interesses corporativos ou projetos pessoais de poder do que na luta pela sobrevivência da nação brasileira. No caso da gripe asiática não conhecemos a opinião das associações médicas, dos nossos especialistas. Assim caminhamos candidamente para cenários de alto risco pela absoluta falta de interesse social de gente que, a essa altura, deveria estar reunida, fazendo estudos e manifestos apontando o que deveria ser corrigido para se evitar surpresas mortais.

A omissão assusta quando vivemos num cenário em que só o valor das tarifas incomoda. Será que as empresas de transporte aéreo estão fazendo a manutenção de seus aviões com os padrões necessários? As hidroelétricas estão sob controle? É grande o risco de outro acidente ambiental? A Petrobrás e as Cataguazes da vida tomaram juízo?

Precisamos de maior presença dos nossos técnicos na discussão dos problemas nacionais. Já não podemos confiar em governos que se entregaram ao FMI e a questões menos importantes que a sobrevivência do próprio povo.

Cascaes

11.5.3

Defesa Civil e a vigilância cívica

A evolução da Humanidade precisa ser medida pela educação que adquire. Certamente uma forma de se avaliar o grau de desenvolvimento de qualquer povo está na forma de reagir, de atuar em diversos cenários. Notamos culturas passivas e ativas. Muitas preferem rezar, outras trabalhar, lutar, enfrentar. Entre os muitos comportamentos odiosos percebemos a indiferença, a ausência de preocupação com a sorte de outros que não sejam da própria comunidade.

O maremoto, que matou mais de cem mil pessoas na região do oceano Índico, foi, acima de tudo, um exemplo incrível da capacidade de omissão dos seres humanos. Para terminar o ano de 2004 vimos a tragédia de Buenos Aires, ano que também mostrou a polêmica semântica em torno do furacão Catarina, com ventos de 150 km aproximando-se de Santa Catarina enquanto a mídia gastava seu tempo analisando conceitos. Os exemplos não param por aí mas são suficientes para mostrar um grau de alienação e ignorância extremamente perigoso.

As grandes catástrofes causam prejuízos e sofrimentos incalculáveis. Muitas são inevitáveis, acontecem porquê são acontecimentos fora de nosso controle, outras não. Praticamente todas teriam menos vítimas se existisse uma preocupação real em evitá-las, ou, pelo menos, em reduzir seus efeitos.

Os tsunamis asiáticos eram previsíveis a partir do momento em que se percebeu o terremoto gigantesco que lhes deu origem. Via internet e noticiários, grande parte da população, com possibilidades de ser atingida, poderia ter sido alertada. Laboratórios de sismologia do mundo inteiro registraram o fenômeno. De nenhum deles partiu o email que teria salvo milhares de pessoas. Note-se que essa mensagem seria pessoal ou institucional, não aconteceu por iniciativa do plantonista (normalmente um cientista, doutor ou coisa parecida) nem por vontade das instituições, afinal não tinham contrato de apoio àquelas nações...

E nesses países, a Índia é nação que já tem armas nucleares e inúmeros cientistas, apesar de tudo isso nada aconteceu para se mandar a mensagem à CNN, por exemplo, que, com certeza, salvaria muita gente. Observando as reportagens, notamos que alguns minutos de aviso prévio seriam suficientes para deslocar das praias gente que lá passeava ou trabalhava sem imaginar que estava a poucos instantes do final trágico.

Vivemos a lógica do egoísmo exacerbado, o resultado é o que descobrimos em nosso dia a dia. A violência cresce e todos agem como se tudo fosse problema dos outros ou de governo. Parece que o indivíduo perdeu capacidade de reagir, de atuar efetivamente. Reza-se muito, pratica-se todo tipo de ritual, mais para pedir perdão e bajular algum ser superior do que realmente na preocupação de se reforçar algum processo de solidariedade.

No Brasil temos cenários de risco que aumentam com o tempo. Aqui possuímos desde usinas nucleares em praias moles (Itaorna) até barragens de grande porte. Aviões, trens, navios e caminhões poderão explodir se forem mal cuidados. Temos terremotos, sim, assim como enchentes gigantescas, secas, ventanias e outros fenômenos naturais respeitáveis. Estamos preparados para enfrentá-los?

No Setor Elétrico essa é uma questão permanente, que deve merecer a atenção de nossas autoridades. É sempre melhor prevenir do que remediar. Os acidentes dependem de circunstâncias coincidentes, as principais delas certamente serão os projetos deficientes, manutenção precária e pessoal de operação mal preparado.

Não é privilégio nosso a omissão. Ela faz parte de um processo mundial. Pior ainda quando acontece entre agentes com maior responsabilidade. Não devemos ignorar as tentações da economia fácil, da redução de custos irresponsável, da incompetência técnica.

A vigilância permanente é fundamental à segurança de todos nós.

Precisamos aprender com os nossos erros (e dos outros). Devemos evoluir. Sabemos o que é necessário para que os grandes acidentes sejam menores e, alguns, evitáveis. Deveríamos introduzir em nossas escolas cursos de prevenção, alerta, solidariedade, atenção. Nossos profissionais deveriam saber onde e como agir para impedir ou reduzir acidentes. Educação e instrução poderão transformar o mundo, é só querer.

Cascaes

1/1/2005