Monstrópolis
O Brasil é um país de dimensões continentais, que aos poucos descobre os problemas da excessiva concentração humana em cidades que deveriam conter seu crescimento e corrigir seus problemas de infraestrutura material, social e educacional. A segurança da população residente depende demais da limitação saudável e ocupação de espaços justos e necessários, talvez até se desfazendo de atrativos para o que se convencionou denominar “progresso”.
O custo para viabilização de grandes populações urbanas não cresce linearmente, mas em degraus que podem exigir investimentos colossais. Isso tudo acontece porque a água tem limitações e depois de usada precisa ser bem tratada, não simplesmente deixando-a incolor. Em energia elétrica aparecem as demandas por ar condicionado que podem até mudar a hora da ponta e carga. Leva-se para dentro da cidade energia coletada em usinas, poços de petróleo, plantações de cana etc. onde boa parte dessa capacidade de trabalho se transforma em calor. Sabe-se que tudo isso contribui para a formação de cones convectivos, agravando riscos de chuvas intensas e mudanças de microclima. A temperatura média de uma cidade pode chegar a mais do que 10 graus da existente antes de sua criação.
Cidades grandes significam deslocamentos enormes, engarrafamentos e a necessidade de sistemas pesados de transporte coletivo e de carga. As ruas e avenidas não são elásticas e a configuração da malha viária é um problema sério. As administrações municipais tornam-se impotentes sob o peso dos interesses imobiliários e outros; assim, planos bem concebidos de urbanização se perdem ao longo do tempo.
Áreas verdes? Ocupações, não raramente estimuladas pelos proprietários de imóveis, que não podem vendê-los por estarem em áreas de preservação, transformam-se em conjuntos habitacionais, mais ruas, praças, estacionamentos etc.
O Brasil já foi uma grande savana. O clima muda sempre. Como enfrentar as mudanças que talvez os climatologistas e estudiosos da Terra possam prever?
Esse é um desafio constante e que exige de todos nós muita cautela em qualquer tipo de empreendimento.
Um aspecto delicado da concentração urbana ocorre quando as cidades estão próximas às nascentes de grandes rios, ou seja, já contaminando águas na origem, gradativamente poluindo mananciais e sistemas que podem ser frágeis. No Brasil muitas capitais estão nessa condição, justamente cidades que pela sua natureza política atraem muita gente.
Vemos com tristeza o avanço de metrópoles como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e outras que até um passado não muito distante não davam sinais de virem a ser o que se tornaram graças a programas adicionais de estímulo industrial.
Precisamos repensar nossas cidades e assumir o controle da expansão de lugares que seriam infinitamente mais agradáveis se tivessem crescido de forma inteligente. Isso não aconteceu, e agora lamentamos a degradação mais do que visível e nos assustamos com qualquer empreendimento adicional.
Temos a aplicação severa da legislação ambiental sobre empreendimentos distantes das cidades, por quê não criarmos metodologia de análise de impactos ambientais urbanos, compensações e limitações a grandes projetos em áreas metropolitanas?
Em Curitiba, por exemplo, acompanhamos par e passo os efeitos de plantas industriais em lugares errados. E agora?
O que devemos e podemos fazer é evitar o agravamento do que já existe e lutarmos pela descentralização racional do Brasil; espaços existem, só precisamos de gerenciamento técnico e político adequado.
Cascaes
12.8.2011
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